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e A Condição Humana

 

RESUMOS

Ação, natalidade e a possibilidade da política

Adriano Correia (UFBA)

Para Hannah Arendt, há um vínculo estreito entre natalidade, novidade, espontaneidade, ação e liberdade. Desse modo, a novidade de cada nascimento conserva as infinitas possibilidades que renovam a promessa de perseverança da pluralidade entre os homens. Pela mesma razão, qualquer ruptura na relação entre natalidade e espontaneidade representa um risco que pode minar as possibilidades mais remotas da política. Tais ligações, mormente aquela entre natalidade e política, como são estabelecidas em A condição humana, estão na própria base da compreensão da identificação da ação com a liberdade. Arendt sustenta então que está inscrita na própria condição humana, assim como na especificidade da renovação persistente da espécie humana, uma dimensão política. Estabelece-se assim a dificuldade de ter de relacionar natureza e política. Ao mesmo tempo, todavia, conforma-se uma vigorosa interpretação crítica do presente.

 

 

Hannah Arendt e a biopolítica: a fixação do homem como animal laborans e o problema da violência

André Duarte (UFPR/CNPQ)

Trata-se de discutir a crítica arendtiana do aumento da violência política no presente, centrando a atenção na sua análise da ascensão da ‘vida’ ao estatuto de principal preocupação política a partir de meados do século 19, simultânea ao processo de fixação do homem como animal laborans. Tanto no caso das sociedades democráticas de massa, quanto no caso das sociedades totalitárias de esquerda e de direita, a ‘vida’ do animal laborans assumiu o centro do cenário político contemporâneo, gerando uma profunda transformação do espaço público e um assombroso aumento da violência política. Relacionando a crítica arendtiana da naturalização contemporânea do político à sua análise do fenômeno totalitário, pode-se perceber que foi justamente em nome da preservação e defesa da ‘vida’ e dos interesses vitais da sociedade que se refinaram e se multiplicaram os meios de violência concentrados no Estado, motivo pelo qual pensamos que a noção foucaultiana de biopolítica, a despeito de inexistente no léxico arendtiano, seja adequada para caracterizar sua própria reflexão crítica sobre a política no presente. Não é, portanto, casual que a glorificação da vida, assumida como bem supremo que tem de ser administrado, normalizado e saneado, tenha engendrado formas diversas de controle homogeneizador, por meio do controle cotidiano que transforma a ação espontânea em mero comportamento, bem como por meio de processos eugênicos de depuração da raça e de ‘limpeza’ étnica. Em outras palavras, a fixação biopolítica do homem como um animal laborans teve de incorporar a violência como traço constitutivo do político na contemporaneidade, para além das diferenças estruturais existentes entre as democracias de massa e os regimes totalitários ou ditatoriais.

 

 

A atualidade de A condição humana - Cultivo da Felicidade Pública versus Felicidade Privada do Consumo

Bethânia Assy (UERJ)

O atrofiamento de nossa capacidade de imaginar aquilo que diz respeito aos homens somente em pluralidade chegou a tal ponto que falar de sentimentos públicos já não faz qualquer sentido, muito menos quando se trata de definir a felicidade. A privatização do nosso imaginário às puras satisfações pessoais nas sociedades atuais parece encontrar no corpo, justamente o espaço menos compartilhado, que menos diz respeito ao coletivo, a consagração do nosso aprazimento. Tem-se desta forma, um deslocamento do self, privado e sem qualquer visibilidade, para o corpo, já visível, porém ainda privado. E é justamente nele, nos seus prazeres e dores, que Hannah Arendt vai localiza a dimensão mais radical da felicidade privada. Ao contrário da valorização da imagem corporal, na qual ser e aparecer também coincidem, o que esta por detrás da valorização arendtiana do espaço público da aparência é fornecer um fórum para a liberdade humana entendida não como horizonte das experiências interiores, mas como um espaço do exercício da virtuosidade pública.

 

 

Hannah Arendt e Norberto Bobbio: uma proposta de aproximação

Celso Lafer (USP)

Hannah Arendt e Norberto Bobbio foram contemporâneos, pensaram vários temas de seu tempo de modo bastante próximo, tinham amigos em comum, mas nunca se mencionaram. Com efeito, as considerações de Bobbio sobre o genocídio dos judeus, sobre a natureza do mal, sobre a desobediência civil e sobre a necessária transparência no espaço público o aproximam de vários temas da obra arendtiana. Tanto quanto isto, todavia, tal abordagem se justifica pela aproximação de dois defensores da política e da liberdade.

 

 

Secularização, Niilismo e isolamento e a Condição Humana do Indivíduo secular: A Crítica Religiosa da Idade Moderna e da Filosofia da Existência por Hannah Arendt

Celso Vaz (UFPA)

Nesta palestra será apresentado um dos aspectos do teor religioso do pensamento de Hannah Arendt. Veremos que a sua leitura da filosofia da existência destina-se a criticar a maneira como esta filosofia contribui para a secularização do mundo e do homem modernos do século XX, colaborando para o advento de uma condição humana solitária e vivida em uma sociedade de massa. Mostraremos que para Arendt, este homem moderno caracteriza-se por uma atitude irreligiosa porque ele não mais adota por referências em sua conduta individual e coletiva, os fundamentos e os critérios religiosos concebidos pela tradição greco-romana e judaica cristã que outrora regiam a vida pública. Destacaremos como Arendt entende a contribuição da filosofia da existência para esta ruptura e a sua participação na desdivinização do mundo e na divinização do homem. Para Arendt, as diversas correntes desta filosofia forneceram, às suas maneiras, os alicerces espirituais e históricos irreligiosos do niilismo e da solidão.

 

 

O perdão e os crimes contra a humanidade: um diálogo entre Hannah Arendt e Jacques Derrida

Cláudia Perrone-Moisés (USP)

Em A Condição Humana Hannah Arendt afirma ser “elemento estrutural na esfera dos negócios humanos que os homens não possam perdoar aquilo que não podem punir, nem punir o que é imperdoável”. Para Jacques Derrida em O Século e o Perdão, podemos manter uma acusação penal mesmo perdoando e podemos, inversamente, não julgar, mas perdoar. A partir dessas assertivas pretendo propor a discussão em torno de questões relacionadas aos crimes contra a humanidade.

 

 

Sobre o agir e o julgar: Hannah Arendt leitora de Kant

Daniel Tourinho Peres (UFBA)

Em suas Lições sobre a Filosofia Política de Kant, Hannah Arendt distingue entre o princÍpio pelo qual se age e o princípio pelo qual se julga. O segundo desses princípios será aquele de um espectador judicante, ao qual seria atribuído a imparcialidade “obtida por meio da consideração do ponto de vistas dos outros”. Para Arendt tal imparcialidade é de fundamental importância, porquanto é o ponto de vista do observador, do espectador judicante, que pode resolver o problema do acordo entre moral e política. Mas ainda que se aceite a distinção entre agente e espectador, pode-se afirmar que, segundo Kant, o segundo ponto de vista é imparcial? Como se irá mostrar, não parece ser o caso, na medida em que o espectador não apenas observa, mas também comunica seu pensamento. Ora, comunicar o pensamento é já uma forma de participação, bem como julgar é uma ação – mesmo que do espírito. Assim, agentes e espectadores tomam todos parte, ainda que não sob uma mesma determinação.

 

 

Tão sombria a traição dos homens – A citação como método em Walter Benjamin, sob a leitura de Hannah Arendt

Edvaldo Souza Couto (UFBA)

O trabalho explora a função da citação como método em Walter Benjamin, com ênfase na leitura desenvolvida por Hannah Arendt. A paixão de colecionar e, especificamente, de colecionar citações, inserida no contexto do conflito entre tradição e modernidade, está no centro de todas as obras de Benjamin. O colecionador de citações é um tipo especial de saqueador, que descontextualiza, manipula enxertos, e arruma-os em nova ordem, com liberdade de movimentos e usos. Tal paixão, o interesse pelo passado, em forma de fragmento, é apontado por Arendt como o ato de nomear e, portanto, a forma aceitável e possível do filósofo estabelecer uma relação com o passado, sem recorrer à tradição. Uma estratégia de viver a modernidade fazendo da tradição em si uma especialidade. Um modo de agarrar-se firmemente ao presente para, a partir dele, consultar o passado, de onde os fragmentos surgem como peças de uma coleção rara e preciosa.

 

 

A faculdade do pensar e o espectador arendtiano: desdobramentos de “A Condição Humana”

Lilian Araújo (CEFET - Ouro Preto)

A figura do espectador, que permeia A Vida do Espírito, é a metáfora apropriada para o homem que chega a um mundo “já dado” e só pode viver no sentido de “existir”, plenamente, junto a outros homens, mas que deve manter sua capacidade de filosofar, “refletir sobre o que vê”. Nossa proposta é discutir o papel do espectador na filosofia tradicional, acompanhando Arendt em seu levantamento histórico no âmbito filosófico. A autora insiste na importância desta figura, mas observa a perda de status sofrida, até tornar-se figura descartável. Essa investigação é importante, porque, se o filósofo quer ser “um homem entre outros homens”, ele, numa primeira instância, diante do “peso da Realidade”, escolhe o mundo. A partir daí, passa a escolher os objetos e os fatos para os quais voltará sua atenção e posterior reflexão. Finalmente, além de “espectador desinteressado”, o filósofo torna-se, no sentido rigoroso da palavra, “espectador do mundo”.

 

 

Hannah Arendt: violência e banalidade do mal

Marconi Pequeno (UFPB)

A noção de banalidade do mal permite a Hannah Arendt pensar as novas modalidades de violência oriundas da experiência totalitária do século XX. Este mal não traz consigo a imagem do monstro perverso, mas a de homens aparentemente desprovidos de qualquer natureza maligna, como era o caso de Adolf Eichmann. Não há nesses indivíduos grandeza satânica, mas apenas banalidade, superficialidade. Homens sem consciência moral, sem vontade própria, sem julgamento, capazes de praticar banalmente o mal. O mal pelo mal.  O mal se reveste aqui de uma assustadora normalidade. E essa normalidade desafia palavra e pensamento. A conclusão se impõe: as novas formas de violência, em função do seu caráter inusitado e bestial, desafiam a potência explicativa da razão. Hannah Arendt recusa, com isso, o conceito kantiano de mal radical, evidenciando a normalidade ou banalidade de seus autores, mantendo-se, enfim, o paradoxo atroz e a ameaça aterradora de se viver em um mundo onde homens ordinários podem se transformar em assassinos monstruosos. Assim, à noção de radicalidade do mal se opõe a emergência do mal decorrente de um homem medíocre, incapaz de pensar o outro, usuário de uma linguagem estereotipada, de um discurso confuso. O mal praticado por tal indivíduo permite que se reflita sobre a personalidade  desse novo tipo de criminoso: o inimigo do gênero humano na pele de um cidadão comum.

 

 

O "homem de massa" de Arendt e a "multidão" de Hobbes

Nadia Souki (UFMG)

O “homem de massa”, conceito chave na filosofia política de H. Arendt, remete a uma reflexão mais ampla sobre o fenômeno contemporâneo das massas modernas. Em que sentido esse fenômeno constitui, de fato, uma novidade política ou deveria ser pensado melhor como uma evolução histórica de outros já estudados na tradição? O exame do confronto entre os conceitos de "multidão" e "povo" em Thomas Hobbes, será usado para iluminar essa reflexão.

 

 

Condição humana e alienação em Hannah Arendt

Odilio Alves Aguiar (UFC)

A comunicação tem por finalidade discutir a concepção arendtiana de condição humana à partir do Prólogo e do Capítulo Primeiro da obra homônima da autora à luz do cotejamento analógico com a idéia de lugar (topos) na Física de Aristóteles e da discussão feita pelo mesmo autor no início da Ética a Nicômaco a respeito dos “assuntos humanos” em contraposição aos “assuntos naturais”. Nossa proposta é atravessada pela hipótese da alienação como fio condutor para entendermos a obra em pauta.

 

 

O conceito de mundo comum em Hannah Arendt

Silvana Winckler (UNOESC)

Palavras-chave: Política, mundo comum, espaço público, cidadania

O presente texto trata do conceito de mundo comum na obra de Hannah Arendt. Parte-se da idéia de que a concepção arendtiana de mundo comum oferece elementos importantes para pensar a (re)configuração do espaço público nas sociedades atuais. O mundo comum, de acordo com a autora, é o que está entre nós, o que nos une e ao mesmo tempo separa. Neste sentido, é o público, o que é comum a todos e diferenciado dos lugares possuídos privadamente. Aproxima-se, portanto, da noção de espaço público. Essa categoria, constantemente presente nos escritos de Arendt, será analisada em suas relações com a política, a cidadania e os direitos humanos.

 

 

Ação, Linguagem e Poder: Uma releitura do Capítulo V da obra The Human Condition

Theresa Calvet de Magalhães (UFMG)

“Pensar o que estamos fazendo [to think what we are doing]” é o tema central da obra The Human Condition, publicada em 1958: “O que proponho”, escreve Arendt no Prólogo a esta obra, “é uma reconsideração da condição humana do ponto de vista de nossas mais novas experiências e de nossos temores mais recentes” (p. 6). Este livro trata apenas das articulações mais elementares da condição humana, ou seja, “daquelas atividades que, tradicionalmente, (...), estão ao alcance de todo ser humano”, e não da própria atividade de pensar.

Nem o trabalho nem a obra conseguem abrir um espaço para a pluralidade humana. A ação e a fala requerem um espaço de aparição para se realizar e é justamente a existência desse espaço que permite o aparecimento da liberdade. O poder é o que garante a existência do espaço de aparição potencial entre os homens que agem e falam, ou seja, a existência do próprio domínio público. Ao explicitar como a gramática da ação e a sua sintaxe (a sintaxe do poder) se combinam no ato de fundação em virtude da capacidade humana de fazer e cumprir promessas, proponho uma releitura do Capítulo V, “Action”, da obra The Human Condition.